quinta-feira, 10 de novembro de 2011

SAÍDA DE CAMPO 2011/2

No último sábado, dia 05 de novembro, os alunos da disciplina Povos Indígenas, Educação e Escola realizaram uma saída de campo: visitaram o povo Guarani, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Para muitos, este foi o primeiro contato que tiveram com indígenas, o que causou um certo choque cultural. O que mais marcou a maioria dos alunos foi o fato de que os Guarani não se preocupam com objetos, que não algo tão importante para eles, pois quem realmente se preocupa com isto somos nós, brancos, por uma questão cultural. Uma colega nossa, a Luandra, levou um macaco de pelúcia para ver o que aconteceria. As crianças ficaram encantadas, e o macaco foi tratado como se fosse uma pessoa, como podemos ver na foto abaixo, em que as crianças estão todas admiradas:
Outra atividade feita foi a contação de histórias por um grupo de mulheres do curso de Letras, chamado "Quem conta um conto...", que fizeram uma ótima apresentação de histórias Guarani e encantaram a todos. As crianças pularam corda, que nós levamos e também fizeram um lanche, levado por nós. Outro estranhamento apontado pela turma foi o fato das crianças pegarem apenas um salgado ou doce por vez, mas percebemos que assim elas foram orientadas, pelos mais velhos, talvez para nos mostrarem que são muito educados, algo assim.
Enfim... Conhecer uma cultura diferente, que estamos estudando, na prática, é muito gratificante, e isso foi percebido em nossa turma.

Guarani e Kaingang no Rio Grande do Sul por Priscila Costa da Silva Aristimunha

1 COMPREENSÕES SOBRE OS POVOS INDÍGENAS GUARANI E KAINGANG


A partir da leitura do livro “Povos Indígenas e Educação” e das aulas ministradas pela professora Maria Aparecida Bergamaschi, foi possível iniciar uma breve reflexão e compreensão a respeito dos povos Guarani e Kaingang. O povo Guarani tem sua origem na família tupi-guarani e é dividido em três parcialidades étnicas: o mbyá, o nhandeva e o kaiowá. Estes povos estão localizados principalmente nas regiões centro-oeste, sudeste e sul de nosso país.
Além de desfrutarem de uma língua dividida em três dialetos diferentes, estes povos agregam identidades sociopolíticas um tanto diversificadas, pela influência dos contatos vivenciados com as populações não-indígenas. Apesar disso, este povo evidencia uma grande unidade cultural mitocosmológica e artística. O povo guarani estabelece categorias de sentido muito específicas aos seus grafismos utilizando-os na cestaria, na pintura corporal, nas armas sempre se preocupando em evidenciar o meio ambiente e os seres da natureza, excluindo a representação da figura humana.
Quanto ao processo de conhecimento, o ato de escutar é algo próprio da aprendizagem guarani que os fazem refletir sobre as decisões a serem tomadas independentemente da idade que possuam. Além disso, a cura e o apoio fazem parte dos sentidos compartilhados por este povo. Quando uma pessoa está doente, todos da comunidade devem ter um acompanhamento ativo durante o tratamento desta. Apesar do Karaí (o grande educador na sociedade guarani) ser uma figura central na forma de aprendizagem, para os guaranis o ato de caminhar desenvolve a paciência, a coragem e consciência geográfica de distância.
Com relação ao povo Kaingang, este pertence à família jê do tronco macro-jê e está localizado nos quatro estados ao sul de nosso país (RS, SC, PR e SP). Sua população é uma das maiores de nosso país, atingindo cerca de 20.000 pessoas. Seus grafismos revelam uma percepção dual do cosmos, designadas Kamé e Kainru-kré, que são assimétricas e se complementam. Ao contrário dos povos guarani, os kaingang demonstram através de seus grafismos corpos e nomes, relações sociais, preocupação com o equilíbrio entre os opostos e a complementaridade. Os povos kaingang possuem uma economia baseada na caça, pesca, artesanato e agricultura complementar. O pinhão, abundante nas florestas de araucária presentes ao centro do RS são coletados entre os meses de março a maio e vendidos na beira de estradas.
As crianças kaingang estudam em escolas indígenas ou em escolas públicas municipais e estaduais. Aquelas que freqüentam as escolas indígenas são alfabetizadas em kaingang e português e as demais somente em português. Muitos dos jovens que passam pelo Ensino Fundamental chegam a uma universidade cursando Direito, Pedagogia, Ciências Sociais, Agronomia, Enfermagem, entre outros. Depois de formados, estes se dedicam a trabalhar pelo bem-estar de suas aldeias, nas escolas indígenas, postos de saúde, na FUNAI ou em ONGs.
Os kaingang dividem-se em dois grandes grupos denominados kamé e kanhru. As pessoas mais idosas, responsáveis pela transmissão de saberes dividem homens e mulheres, plantas e animais de acordo com a orientação do sistema dualista. Para estarem em equilíbrio as famílias devem ser compostas por casais onde homem e mulher pertençam a metades opostas. Porém, mesmo havendo estas relações de reciprocidade e complementaridade, podemos dizer que há uma assimetria, pois a metade kamé é considerada mais forte do que a kanhru.
Através desta pequena análise e reflexão torna-se possível perceber que os povos Guarani e Kaingang possuem inúmeras especificidades dentro de sua própria cultura e que cabe a nós estudantes buscar compreender estas diferenças através das leituras e trocas realizadas durante o decorrer desta disciplina.
(Texto escrito por Priscila Costa da Silva Aristimunha, da disciplina Povos indígenas, educação e escola da Faculdade de Educação da UFRGS).