domingo, 18 de dezembro de 2011

Guarani e Kaingang no Rio Grande do Sul por Luandra Lucena Moschen


             Mesmo diante de uma história marcada por trágicos processos de colonização, os povos indígenas sempre resistiram de diversas formas. Hoje, podemos perceber através de dados do IBGE, que mais de 230 povos indígenas habitam nosso país, colaborando assim para a grande diversidade étnico-cultural que caracteriza o Brasil.
                O que aprendemos sobre os índios na escola reflete um pouco da agressão simbólica contra a cultura desses que habitavam nossas terras antes da chegada dos colonizadores. A própria denominação “índio” vem desde o erro de navegação de Cristóvão Colombo, em 1492, ao pensar estar chegando às índias. Hoje, em meio às lutas políticas, os povos indígenas preferem manter a denominação como forma de unir e fortificar os povos originários de todo o território nacional.
                Por outro lado, há muito a ser mudado nas escolas não indígenas no que ser refere aos estudos desses povos. Lembro-me de estudar os índios como pessoas (muitas vezes comparados a bichos selvagens) que vivem somente nas matas, em lugares distantes, em ocas, nus, caçando. Estamos falando de Brasil, um território imenso. Cada região apresenta um tipo de clima, de vegetação, que não permite esse modo de vida a todas as populações indígenas. Isso é simples de se pensar!
                Por isso, é importante compreender que, entre as quatro populações indígenas mais populosas do Brasil estão os Kaingangs que mantêm suas comunidades em regiões de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
                Os kaingangs pertencem à família jê do tronco macro-jê e formam um dos maiores povos indígenas do Brasil, com mais de 20 mil pessoas.                O pensamento mitológico é muito presente na compreensão de mundo desse povo, dividindo-se entre metades denominadas Kamé e Kanhu, um sistema dualista, onde repartem entre si os seres (animais, plantas, minerais, corpos celestes), mantendo viva uma forte relação com a natureza. Isso vale para a regra de casamentos entre eles. Um homem kamé deve casar-se com uma mulher Kanhu e um homem kamé, com uma mulher Kanhu, reproduzindo assim uma descendência patrilinear.
                Suas crianças freqüentam escolas indígenas ou escolas públicas municipais ou estaduais próximas às suas comunidades. Assim, cada vez mais os jovens têm entrado nas universidades para dedicarem seus conhecimentos às suas comunidades.
                Vivem da produção e venda de artesanato e trabalho assalariado fora das comunidades.

(Texto escrito por Luandra CLucena Moschen, da disciplina Povos Indígenas, Educação e Escola da Faculdade de Educação da UFRGS).

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

SAÍDA DE CAMPO 2011/2

No último sábado, dia 05 de novembro, os alunos da disciplina Povos Indígenas, Educação e Escola realizaram uma saída de campo: visitaram o povo Guarani, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Para muitos, este foi o primeiro contato que tiveram com indígenas, o que causou um certo choque cultural. O que mais marcou a maioria dos alunos foi o fato de que os Guarani não se preocupam com objetos, que não algo tão importante para eles, pois quem realmente se preocupa com isto somos nós, brancos, por uma questão cultural. Uma colega nossa, a Luandra, levou um macaco de pelúcia para ver o que aconteceria. As crianças ficaram encantadas, e o macaco foi tratado como se fosse uma pessoa, como podemos ver na foto abaixo, em que as crianças estão todas admiradas:
Outra atividade feita foi a contação de histórias por um grupo de mulheres do curso de Letras, chamado "Quem conta um conto...", que fizeram uma ótima apresentação de histórias Guarani e encantaram a todos. As crianças pularam corda, que nós levamos e também fizeram um lanche, levado por nós. Outro estranhamento apontado pela turma foi o fato das crianças pegarem apenas um salgado ou doce por vez, mas percebemos que assim elas foram orientadas, pelos mais velhos, talvez para nos mostrarem que são muito educados, algo assim.
Enfim... Conhecer uma cultura diferente, que estamos estudando, na prática, é muito gratificante, e isso foi percebido em nossa turma.

Guarani e Kaingang no Rio Grande do Sul por Priscila Costa da Silva Aristimunha

1 COMPREENSÕES SOBRE OS POVOS INDÍGENAS GUARANI E KAINGANG


A partir da leitura do livro “Povos Indígenas e Educação” e das aulas ministradas pela professora Maria Aparecida Bergamaschi, foi possível iniciar uma breve reflexão e compreensão a respeito dos povos Guarani e Kaingang. O povo Guarani tem sua origem na família tupi-guarani e é dividido em três parcialidades étnicas: o mbyá, o nhandeva e o kaiowá. Estes povos estão localizados principalmente nas regiões centro-oeste, sudeste e sul de nosso país.
Além de desfrutarem de uma língua dividida em três dialetos diferentes, estes povos agregam identidades sociopolíticas um tanto diversificadas, pela influência dos contatos vivenciados com as populações não-indígenas. Apesar disso, este povo evidencia uma grande unidade cultural mitocosmológica e artística. O povo guarani estabelece categorias de sentido muito específicas aos seus grafismos utilizando-os na cestaria, na pintura corporal, nas armas sempre se preocupando em evidenciar o meio ambiente e os seres da natureza, excluindo a representação da figura humana.
Quanto ao processo de conhecimento, o ato de escutar é algo próprio da aprendizagem guarani que os fazem refletir sobre as decisões a serem tomadas independentemente da idade que possuam. Além disso, a cura e o apoio fazem parte dos sentidos compartilhados por este povo. Quando uma pessoa está doente, todos da comunidade devem ter um acompanhamento ativo durante o tratamento desta. Apesar do Karaí (o grande educador na sociedade guarani) ser uma figura central na forma de aprendizagem, para os guaranis o ato de caminhar desenvolve a paciência, a coragem e consciência geográfica de distância.
Com relação ao povo Kaingang, este pertence à família jê do tronco macro-jê e está localizado nos quatro estados ao sul de nosso país (RS, SC, PR e SP). Sua população é uma das maiores de nosso país, atingindo cerca de 20.000 pessoas. Seus grafismos revelam uma percepção dual do cosmos, designadas Kamé e Kainru-kré, que são assimétricas e se complementam. Ao contrário dos povos guarani, os kaingang demonstram através de seus grafismos corpos e nomes, relações sociais, preocupação com o equilíbrio entre os opostos e a complementaridade. Os povos kaingang possuem uma economia baseada na caça, pesca, artesanato e agricultura complementar. O pinhão, abundante nas florestas de araucária presentes ao centro do RS são coletados entre os meses de março a maio e vendidos na beira de estradas.
As crianças kaingang estudam em escolas indígenas ou em escolas públicas municipais e estaduais. Aquelas que freqüentam as escolas indígenas são alfabetizadas em kaingang e português e as demais somente em português. Muitos dos jovens que passam pelo Ensino Fundamental chegam a uma universidade cursando Direito, Pedagogia, Ciências Sociais, Agronomia, Enfermagem, entre outros. Depois de formados, estes se dedicam a trabalhar pelo bem-estar de suas aldeias, nas escolas indígenas, postos de saúde, na FUNAI ou em ONGs.
Os kaingang dividem-se em dois grandes grupos denominados kamé e kanhru. As pessoas mais idosas, responsáveis pela transmissão de saberes dividem homens e mulheres, plantas e animais de acordo com a orientação do sistema dualista. Para estarem em equilíbrio as famílias devem ser compostas por casais onde homem e mulher pertençam a metades opostas. Porém, mesmo havendo estas relações de reciprocidade e complementaridade, podemos dizer que há uma assimetria, pois a metade kamé é considerada mais forte do que a kanhru.
Através desta pequena análise e reflexão torna-se possível perceber que os povos Guarani e Kaingang possuem inúmeras especificidades dentro de sua própria cultura e que cabe a nós estudantes buscar compreender estas diferenças através das leituras e trocas realizadas durante o decorrer desta disciplina.
(Texto escrito por Priscila Costa da Silva Aristimunha, da disciplina Povos indígenas, educação e escola da Faculdade de Educação da UFRGS).

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Divulgação - Curso de Extensão

Como tratar a temática indígena e 
afro-brasileira na escola? 

Quando: 24 e 31 de outubro; 07, 21 e 28 de novembro (segundas-feiras) 
Horário: 18h30min às 22h 
Local: Av. Paulo Gama s/n, Faculdade de Educação – prédio 12201, 
sala 306 
Público alvo: professores da Ed. Infantil e Anos Iniciais do Ens. 
Fundamental e alunos da Pedagogia e demais licenciaturas 
Valor: R$ 10,00 


Inscrições pelo e-mail: 
extensaopibidpedagogia@hotmail.com 
Maiores informações: (51) 8436 8620 c/ Michele 
Com CERTIFICADO de 20 horas


VAGAS LIMITADAS!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

POVOS INDÍGENAS - KAIAPÓ: OU KAYAPÓ, OU CAIAPÓ

1. SOBRE OS KAIAPÓS

            O termo Kaiapó foi lançado por grupos vizinhos a esse povo, tendo como significado "aqueles que se assemelham aos macacos", pois os homens realizavam um ritual no qual ficavam paramentados com máscaras de macaco e realizavam danças curtas. Porém ao referirem a si próprios, preferem ser chamados de mebêngôkre, "os homens do buraco/lugar d'água".
            Em relação à língua, são pertencentes à família linguística Jê, do tronco Jê.


                                                Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias
           
            Valorizam a oratória, sendo que se definem como aqueles que falam bem/bonito, ou na língua kaiapó “Kaben mei”. Em algumas ocasiões, como cerimoniais, falam como se estivessem tomando um golpe na barriga, assim diferenciando essa fala da fala comum.
            São constituídos de duas grandes divisões: os caiapós meridionais, ou do sul e os caiapós setentrionais, ou do norte.
            Os primeiros formavam numerosos grupos, hoje extintos, que habitavam o sul de Goiás e de Mato Grosso, o noroeste de São Paulo e o sudoeste de Minas.

2. LOCALIZAÇÃO
           
            Localizam-se sobre o Planalto Central, mais precisamente nos estados de Mato Grosso e do Pará. Com essa localização, enfrentam duas estações: as estações secas (inverno), que vai de maio a outubro e chuvosas (verão), de novembro a abril. A estação seca apresenta como característica dias quentes e ventosos e noites agradáveis, sendo classificada pelos kaiapós como “tempo bom”. Em contrapartida a estação chuvosa se caracteriza por chuvas torrenciais e pela presença de mosquitos, chamando-se assim de “tempo da chuva”.


3. POPULAÇÃO

            Uma estimativa do ano de 2000 indica uma população total de aproximadamente 6300 pessoas, porém ocorrem algumas divergências em relação ao valor total, pois ocorre um aumento constante de sua população.
Uma aldeia indígena costuma variar entre 30 e 80 pessoas, entre os Kayapó, esse número flutua entre 200 e 500 habitantes.


4. ORGANIZAÇÃO SOCIAL

            As casas das aldeias são construídas em formato de círculo, tendo em torno uma praça descampada. No meio dessas aldeias, há a casa dos homens, uma associação onde os mesmos se reúnem para discutir. Lá ocorrem também os rituais. Esse tipo de formação ocorre em todas as aldeias pertencentes ao tronco Jê.
            Nas casas habitam famílias inteiras, advindas dos casamentos realizados, pois as mulheres ao casarem-se trazem seus maridos a morar em suas casas. Assim, quando a residência bate o patamar de algo em torno de 40 pessoasl, inicia-se um processo de construção de casas contíguas à primeira, ou seja, aquilo que costumamos chamar na língua “dos brancos” de “puxadinho”.



5. PINTURAS CORPORAIS  

            A pintura possui função essencialmente social e mágico-religiosa. Para poder receber a pintura corporal com desenhos e motivos decorativos, a pessoa precisa estar com saúde e com a pele limpa. A pintura dos adultos difere da infantil. Crianças pequenas, de ambos os sexos, recebem a mesma pintura corporal.

6. NOMINAÇÃO

  Os Kayapó distinguem doze rituais de nominação. Distinguem duas categori
rias de nomes de pessoas: os nomes "comuns", que podem ser originados de alguma parte do corpo o u a uma experiência pessoal  e os "belos" ou "grandes“, que apresentam um prefixo cerimonial e um sufixo simples.
              São "honradas" entre duas e cinco crianças, denominadas mereremex = "aqueles que estendem sua beleza");


7. ECONOMIA

               Agricultura itinerante praticada por homens, mulheres e meninos. Usam o método de desbravar e queimar (queimada).
               Semeiam batata, cará, mandioca, algodão, milho e, ao lado das árvores, plantam cupá, uma videira com gavinhas comestíveis.
               Alguns grupos introduziram em suas hortas arroz, feijão, mamão e tabaco. Usam fertilizantes e pesticidas.


8. EDUCAÇÃO

Quanto à maneira dos índios Kaiapós educarem as crianças da tribo, não encontramos material para o embasamento, apenas descobrimos que a educação se faz por todos os habitantes da aldeia que repassam as tarefas que garantem a sobrevivência do grupo a cada nova geração desde cedo, tornando as crianças independentes.
U L K – Universidade Limpa Kaiapó: o resgate dos primeiros brasileiros
Em 2009, Paulinho Paiakan juntamente com os líderes indígenas da Nação Kaiapó e o colaborador Prof. Saraiva Rodrigues, elaboraram um projeto de uma Universidade para entregar ao Presidente da Funai. Na carta (que pode ser acessada no blog: http://universidadelimpa.blogspot.com), os Kaiapós encaminham algumas resoluções e exigências:

1 – As Comunidades Unidas Kaiapó, a partir do Fórum Social Mundial, começaram a entender a importância da preservação das suas terras, demarcadas recentemente;

2 – que, essas lideranças reunidas definiram que Paulinho Paiakan seria o representante junto aos órgãos estaduais, federais e a Comunidade Internacional, para cuidar dos seus interesses;

3 – que, diante dessa perspectiva todos compreenderam que um CENTRO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO deveria ser implantado nas terras, para proteger os direitos da Nação Kaiapó, inclusive o patrimônio cultural;

4 – que, a partir dessa decisão resolveram expor ao mundo esse projeto e que a FUNAI, enquanto governo do Brasil, é o órgão capiteneador da causa indígena;

5 – que as Comunidades Indígenas entenderam que não mais devem ser aculturados, pela cultura dos brancos, pois isso trouxe contaminação cultural, étnica, moral e social, conduzindo o povo Kaiapó aos mesmos erros cometidos no passado com todas as nações tupiniquins e, em acontecendo, os Kaiapó estarão condenados ao extermínio, no máximo, em duas ou três gerações;

PELO EXPOSTO REQUER
Que Vossa Excelência interceda junto a Presidência da República para que Excelentíssimo Senhor Presidente Luis Inácio Lula da Silva, através do Ministério da Justiça e Ministério do Meio Ambiente, avalise essa causa e conceda a este representante passaporte legal para divulgar este projeto e, com isso, possa obter apoio da Comunidade Internacional e reverter o processo de extinção dos índios brasileiros, a partir da Nação Kaiapó. É um apelo que faz um povo em adiantado processo de decadência cultural e moral.



            Visando garantir a sobrevivência e continuidade das tribos kaiapós e de todas à natureza o projeto da Universidade Limpa seria um patrimônio mundial para a humanidade em que todos os seres humanos poderiam ter aos conhecimentos que os Kaiapós possuem para contribuir com equilíbrio do planeta. Na Universidade Limpa “não haverá nenhuma distinção de qualquer pessoa pelo seu credo, raça, cor, sexo, todos serão iguais e poderão cursá-la sem ter um currículo para ser obedecido.” Outro ponto interessante é que não haveria valor a ser pago pelo ensino, pois acreditam que “A natureza se encarregará de dar a cada um, segundo sua necessidade.”  
As áreas contempladas pela Universidade Limpa seriam:
* Estudos e Pesquisas Biomédicas
* Estudos e Pesquisas Zoobotânicas
* Manutenção e Tecnologia
* Tecnologia de Alimentos
* Administração e Habitação.

Apesar dos benefícios que este projeto se propõe a trazer para a comunidade Kaiapó e para os brancos também, não encontramos a resposta do Presidente da FUNAI, nem mesmo se haveria uma previsão de ter alguma Universidade Kaiapó no Brasil.
Projeto da
 Universidade
Limpa


 9. LIDERANÇAS


 “O chefe Kaiapó, Paiakan representa, atualmente, a luta pelo meio ambiente, ecologia e pela convivência na diversidade e o direito à vida. Em suas andanças pelo mundo, sempre foi a figura destemida quando falava, firme e sem receios, sobre a difícil tarefa da preservação, manutenção e ampliação dos direitos dos povos indígenas”.


10. BELO MONTE E OS INDIOS KAIAPÓ

Meu povo está brigando contra Belo Monte porque não quer a usina. Quero sentar e conversar antes que tenha guerra e problema que vai acontecer depois vai [deixar] nome do governo sujo"
Cacique Akiaboro, líder caiapó

               A usina destruirá 400.000 acres de floresta tropical Amazônica - um desastre para animais, plantas, e pessoas.
             40% dos requisitos em saúde, educação, saneamento e proteção às terras indígenas não estão sendo garantido pelo consórcio Norte Energia S.A. (NESA);
            Nós devemos impedir Belo Monte agora, antes que o povo kaiapó tome medidas desesperadas e arrisque suas vidas por causa da usina de Belo Monte.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Mito e Vida dos índios Caiapós - Anton Lukesh; Editora da Universidade de São Paulo; pp. 9-11  

http://www.klickeducacao.com.br/enciclo/encicloverb/0,5977,por-4719,00.html, consulta em 19/06/2011

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kayapo, consulta em 19/06/2011
                  http://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_verbetes/xirkin/A_pintura_corporal_xikrin.pdf, consulta em 19/06/2011

http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/06/lider-caiapo-diz-que-havera-guerra-se-governo-insistir-em-fazer-belo-monte.html, consulta em 19/06/2011

(Trabalho de Alessandra Lanius e Greice Hochmuller da disciplina Povos indígenas, educação e escola da Faculdade de Educação da UFRGS)